terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A R T I G O S

Qual é sua dívida?

Cristovam Buarque falou um dia: “A sociedade que não paga suas dívidas é necessariamente caótica”.
Todos têm dívidas. Você também. A diferença é que alguns pagam, outros não. E daí, aqueles que não pagam passam a ser suas amantes, porque você os sustenta. São seus gigolôs!
Mas não é com essa dívida que você deve ficar preocupado. É com a sua dívida moral. Dívida por ser brasileiro, por ser branco, por ser uma pessoa sadia, por ser normal, por ser adulto, por ser pessoa pública, por ser pessoa comum...
Você tem uma dívida de 500 anos com os índios. Suas terras foram invadidas, suas matas derrubadas e sua cultura destruída. Se está pensando que isso aconteceu no passado e que não tem nada com o peixe, lembre-se de que eles continuam sendo espremidos em reservas, suas matas continuam a ser derrubadas, e você continua a fazer a mesma coisa que fizeram aqueles que viveram no período da colonização e ao longo dos últimos 500 anos: nada! E com a mesma indiferença.
Você tem uma dívida com os negros, cuja mão-de-obra foi explorada, cujos corpos foram roubados na África, e que não receberam terras, nem escola, nem emprego, nem dignidade. Aconteceu no passado? E hoje, você paga ao negro o mesmo salário de um branco? Dá a eles as mesmas oportunidades que dá aos outros?
Você tem uma dívida com as crianças. Milhares delas morrem todos os dias por falta de um pouco de comida, aquela mesma comida que sobra no seu prato quando vai a um restaurante. Sabe, aqueles grãos de arroz e feijão que você joga na lixeira após cada refeição; aquele pão que ficou velho e você joga fora... As sobras da sua casa seriam suficientes para matar a fome diária de uma criança. Os brinquedos que seu filho não usa há mais de um ano poderiam salvar a infância de uma criança; e essa dívida não pode ser paga atrasada, porque a infância nunca mais volta. A calça que você não usa há mais de um ano poderia levar alguém à missa do domingo com a dignidade que só os pobres conhecem. O casaco que você não tira do baú há dezenas de invernos poderia substituir o agasalho de jornal que você viu enfeitando aquele homem na esquina da sua rua.
Você tem dívida com os velhos, abandonados em asilos sujos e desumanos. Com as meninas que engravidam sem saber exatamente o que é a adolescência. Com os drogados que perdem sua vida por falta de uma palavra amiga, talvez um sorriso. Com os jovens que procuram trabalho, escola ou faculdade que se fecha pelo alto preço.
Mas a sua maior dívida é consigo mesmo: a dívida de ter votado num presidente, governador ou prefeito que gastou com poucos o que poderia ter aliviado o problema de muitos. Governantes que continuam a derramar vantagens ao colonizador em detrimento do colonizado.
Os negros, índios, crianças, velhos e pobres de 1500 continuam a clamar por oportunidades e um pouco de dignidade. E esse clamor chega todos os dias aos seus ouvidos sem que você faça coisa alguma!
E daí, ainda continua a pensar que não deve nada?
Valdelírio Michel

3 comentários:

Carla Michel disse...

Parabéns!
A mais pura verdade.

Siguilita disse...

Pois é.. foi assim que deixei de ser socialista pra virar " egoistica" pq ate tenho dividas para com a sociedade e bla bla bla. mas a maior e a que eu mais respeito e a divida para comigo mesma.. de fazer que deseja (pelo menos um pouco) e ser feliz.. depois .. e lamento mas naum tanto...so depois.. vou arregaçar as mangas por causas que naum as minhas...
bjokas

Daiane Pereira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.